O ‘Cisca’, como diziam as vizinhas, vivia de “caçar a mulherada”. Nem era bonito, o vivente, mas era conhecido pelo jeito especial de “pegar”.
Até a chegada de uma discreta moradora do 703. A mulher era bela, elegante, e….. “perversa”, como Paulo Rogério costumava identificar uma mulher bonita.
Antônia, assim que mudou para o local ouviu qualquer coisa a respeito do Dom Juan do 501, mas nem tomou conhecimento. Não gostou muito da mania daquele povo de sentar à sombra no final da tarde para fazer fofoca da vida alheia, e se mantinha distante.
Mas, a fofoca maior não conseguiu evitar: passadas duas semanas, nas rodas de conversa, dia sim, outro também, a pergunta era uma só: quando é que Paulo Rogério iria ‘pegar’ a megera do 703.
De pergunta virou aposta. De aposta obsessão. Paulo Rogério decidiu conquistar a ‘megera’, e, aos poucos, se tornou ‘escravo’ dela. Porém, algo saiu errado. E ele não tinha ideia de como consertar.
-Por mais que eu insista, ela não me dá uma chance. Não consigo mais dormir, sonho com essa mulher – desabafou. E, nesse dia assinou sua sentença diante dos ‘amigos’. Logo o vilarejo todo sabia do fracasso de Paulo Rogério, que havia sido derrubado por uma flecha do amor.
Em uma manhã Antônia preparava-se para ir ao trabalho, quando a campainha tocou.
A chegada de um buquê de flores, acompanhado de um largo sorriso, derreteu o gelo entre a dona da casa e a entregadora. E, a partir daquela manhã Antônia passou a receber a visita de Ana Maria, diariamente. A moça fora contratada por Paulo Rogério para levar flores para sua amada. E, com isso, ajudá-lo a derreter aquele coração.
Apesar de todos os presentes, Antônia nunca devolveu uma linha sequer. E, naquela noite, Paulo Rogério resolveu tomar uma decisão: vou pessoalmente ao apartamento dela. Terá de me responder. Ou sim, ou sim também. – e riu.
Era véspera de Natal e Antônia chegou molhada pela chuva, e até sorriu para ele ao avistá-lo na janela. Paulo Rogério pensava que seria a noite ideal. Deixou passar algumas horas, para não demonstrar a ansiedade. Então seguiu em direção ao apartamento de sua amada. Deu dois toques e a porta abriu. De certo a vizinha esqueceu de trancar. Quando começou a entrar na casa ouviu gemidos, e sussurros. Mas não parou. A curiosidade aguçava mais que o desejo de domar a fera e depois “largar”, conforme o combinado durante uma das tantas apostas que fez.
Tomou coragem e empurrou a porta do quarto. Parou, estupefato: a visão bloqueou seu pensamento. A véspera de Natal transformou-se num pesadelo do qual não conseguia acordar. Na cama, Ana Maria e Antônia trocavam carícias e juravam amor. Enfim, Paulo Rogério recebia a resposta que vinha procurar.
MORAL DA HISTÓRIA: se algo é vital, não mande outro em seu lugar!