Certa vez uma minhoca decidiu ser prefeita da cidade onde
nasceu. E, para isso, estava convicta de que faria qualquer coisa. Por muitos
anos havia trabalhado, em diversas regiões do país, e reunido uma grande
fortuna, parte por seu esforço, outra parte pela ganância desmedida, que a
fazia utilizar de expedientes não tão éticos para amealhar algum vintém. Esta
parte, distribuída nas contas de seus “colaboradores”, uma vez que uma minhoca
não possui agentes laranjas.
A jovem senhora tinha
um nome peculiar: Andorinha. Parecia piada, uma minhoca com nome de pássaro.
Aliás, a piada residia justamente ai: uma minhoca com nome de pássaro, pretensa
a ter poderes sobre os seres humanos. E foi assim que Andorinha lançou-se
candidata. E, pior que isso: venceu as eleições. Seus colaboradores imprimiram
uma campanha cheia de violência e agressões, intimidando, ameaçando e comprando
quem viesse impor obstáculos. A minhoca da terra, temida por muitos, odiada por
outros, bajulada por alguns, finalmente alcançou seus objetivos. E a cidade do
brejo já podia contar com uma nova prefeita. Que mal assumiu o cargo começou a
mostrar as unhas. Sim senhor, unhas de minhoca: cheias de visgo, da lama que
encobria sua história de vida.
No dia a dia a minhoca Andorinha bancava a boa moça,
vestia-se elegantemente, e aparecia em público como uma grande dama. Era
durante os momentos em que o público não a via que a verdadeira face vinha à
tona, uma face encoberta pela maldade, pelo rancor e o desprezo com os humanos.
Dia a dia, a cidade do brejo via-se apodrecer, junto com sua prefeita. Pessoas
sem saúde, sem emprego, sem asfalto, sem vida. Nada funcionava desde que a
minhoca Andorinha passou a dormir na Prefeitura. E, o pior aconteceu: deflagrou-se
uma greve geral, instalou-se o caos total. A multidão, enfurecida, batia na
porta da Prefeitura. Queriam ver a nova prefeita, exigir que cumprisse com as
promessas de campanha. Enquanto isso, ela descansava, faceira, nas praias de
São Francisco de Lima. (Edna Lautert).