Edna Lautert

Faço do tempo um elemento na eterna tentativa de construir uma vida com mais graça e com mais cor.



quarta-feira, 3 de abril de 2013

Amor virou terra


Canto essa canção
Que lhe fala de amor
Novamente esse tema, tão banal
É que me brota da veia, essa necessidade
De lhe dizer coisas assim...
Em tempos de paz, o amor era farto
Mas vivemos em guerra, flagelo da alma
Somos terra, pó, relva molhada
Não temos mais nada a oferecer.
Em toda esquina há crianças chorando,
Há jovens matando, pra sobreviver.
Canto essa canção....que lhe fala de amor.
Conhece esse tema?
 (Edna Lautert)


Vida em flores


O vento lavou a relva da estrada
E encobriu os passos de nós dois.

Fecha a cortina, encerra o teatro
Já não há mais fato pra contar depois.

Não quero dor, nem despedida
São coisas da vida, tem que ser assim

Vão-se as flores mortas, de um amor doente
Ficam as correntes, e uma outra vida...

Cheia de esperança, chega a primavera,
e esta vida em cores,  restará mais linda!
( Edna Lautert)

A minhoca de São Francisco de Lima



Certa vez uma minhoca decidiu ser prefeita da cidade onde nasceu. E, para isso, estava convicta de que faria qualquer coisa. Por muitos anos havia trabalhado, em diversas regiões do país, e reunido uma grande fortuna, parte por seu esforço, outra parte pela ganância desmedida, que a fazia utilizar de expedientes não tão éticos para amealhar algum vintém. Esta parte, distribuída nas contas de seus “colaboradores”, uma vez que uma minhoca não possui agentes laranjas.
 A jovem senhora tinha um nome peculiar: Andorinha. Parecia piada, uma minhoca com nome de pássaro. Aliás, a piada residia justamente ai: uma minhoca com nome de pássaro, pretensa a ter poderes sobre os seres humanos. E foi assim que Andorinha lançou-se candidata. E, pior que isso: venceu as eleições. Seus colaboradores imprimiram uma campanha cheia de violência e agressões, intimidando, ameaçando e comprando quem viesse impor obstáculos. A minhoca da terra, temida por muitos, odiada por outros, bajulada por alguns, finalmente alcançou seus objetivos. E a cidade do brejo já podia contar com uma nova prefeita. Que mal assumiu o cargo começou a mostrar as unhas. Sim senhor, unhas de minhoca: cheias de visgo, da lama que encobria sua história de vida.
No dia a dia a minhoca Andorinha bancava a boa moça, vestia-se elegantemente, e aparecia em público como uma grande dama. Era durante os momentos em que o público não a via que a verdadeira face vinha à tona, uma face encoberta pela maldade, pelo rancor e o desprezo com os humanos. Dia a dia, a cidade do brejo via-se apodrecer, junto com sua prefeita. Pessoas sem saúde, sem emprego, sem asfalto, sem vida. Nada funcionava desde que a minhoca Andorinha passou a dormir na Prefeitura. E, o pior aconteceu: deflagrou-se uma greve geral, instalou-se o caos total. A multidão, enfurecida, batia na porta da Prefeitura. Queriam ver a nova prefeita, exigir que cumprisse com as promessas de campanha. Enquanto isso, ela descansava, faceira, nas praias de São Francisco de Lima. (Edna Lautert).